Silêncio. O espaço está sossegado, silencioso. Esta ausência de qualquer ruído é agradável, acolhedora. Os raios da lua entram por entre as frechas das cortinas desleixadamente corridas, o chão, forrado a veludo, é banhado por uma espécie de névoa prateada que vai envolvendo os objectos, as paredes, os corpos. Uma espécie de brisa gelada percorre o quarto, o espaço, os corpos desnudos. Essa brisa envolve-os num turbilhão de arrepios e sensações que se concentram à flor da pele. Os objectos deixados pelo chão, o cheiro dos corpos… completam um cenário sensual.
A dança insistente, o íntimo que arde. A fronteira do desejo foi transposta. O desejo controla, o desejo arranca, o desejo possui, os corpos são possuídos. A mão que percorre, que arranha, que rasga. A boca que beija, que lambe e que morde. As amarras invisíveis que prendem os corpos vão-se tornando cada vez mais apertadas, sufocantes. Sufoco agradável, sufoco que contraditoriamente faz suspirar. Suspiro ao ouvido. Arrepio.
O espartilho mental é rasgado pela voluptuosidade do desejo que insiste em possuir o momento. A dança descontrola-se, a dança ganha vida. Sabores e cheiros entornados no chão, o veludo absorve. Instinto. Impulso. Desejo. Prazer. Fome de mais.