Wednesday, February 7, 2007

Saldos: venda daqueles orgãos que se encontram no peito.


Está a chegar aquele dia, o dia em que toda a gente parece transformar-se em “nheca”. Moles, descabidos. A moleza leva-os pela demanda do santo Graal: berloques corações felpudos, molduras, caixinhas e bonequinhos… tudo vermelho, tudo mole, tudo “nheca”. E começam os saldos do coração. Lojas e lojinhas cheias de artigos destes, que servem para celebrar o falado dia. Para onde quer que te vires: “Amor”, “Adoro-te”, “I Love you”, “Ti amo”. Bah … merda e “nheca”!

Correcção, não há transformação em “nheca”, há congestionamento de “nheca” nas ruas! A “nheca” já existe só que resolve sair toda à rua! Por todo o lado, casais e casalinhos passeiam de mãos dadas, celebram o “amor”! Bebem cafezinhos, jantares românticos, passeios sensuais… não existe nada além de “nheca”!

Vais jantar com uma amiga, porque calha, não te lembras que a “nheca” anda à solta, e isso já faz de ti lésbica! (Confusão que não me desagrada) Sim, porque nesse dia só saem à rua casais enamorados. É o dia das “nhecas” que passam o resto do ano no sofá a ver filmes românticos, o dia das “nhecas” que esquecem por umas horas que não gostam tanto assim um do outro, que o amor passou a discussão consecutiva, e o bem estar comum a deixa tar ou deixa andar.

E vão aos saldos do coração porque mais vale comprar merda barata a não ter merda alguma.

*nheca: palavra que pode ser usada como substantivo ou adjectivo; subs. Comprador de nheca; adj. Algo mole que serve para simbolizar exacerbadamente o amor.

Puta?

A noite cai, a puta sai. As luzes acendem, o céu escurece, as ruas vão ficando desertas, as cabeças despertas. As meias até ao joelho, apertadas, tão apertadas que a carne parece querer soltar-se daquele espartilho, roçam no interior das pernas já descarnadas. Os saltos agitam-se sob um corpo esquelético, pálido, patético. A pressa de chegar a sitio nenhum, à esquina mais próxima. Aqueles olhos negros, escondidos sob uma máscara artificial exagerada e esborratada, o cabelo moreno solto na poeira da cidade, na imundice de mãos anónimas e desconhecidas.
Acende um cigarro, unhas vermelhas. Saia curta, top acentuado, estás à espera de te vender ao desbarato? Chega o comprador: à dúzia é mais barato? Vendes-te como um naco de carne. Vendes o teu corpo e afirmas que alma fica intacta. “Tenho de fazer sacrifícios para conseguir o que quero”, dizes tu. Sacrifícios? Alma intacta? Não acredito. Sei o que vejo, vejo um pobre corpo entregue ao vício, não do prazer mas do dinheiro fácil e rápido. Sacrifício? Talvez mas és tu que te colocas nessa penitência e não me venhas dizer que não tem qualquer consequência! Já não te consegues dar a alguém que realmente te queria a não ser que te dê 50€ em troca. Não entendo, não consigo perceber. A noite acaba, acordas com lembranças do pesadelo recente. Dizes que não tem consequências? E esse olha apático, morto? Não é consequência?


(não consigo, não quero, não vou entender... )

Monday, February 5, 2007

História Inacabada.


Era uma vez, à muito tempo atrás, duas meninas pequeninas... essas meninas pequeninas encontram-se, sorriram, juntaram-se, partilharam, viveram... as meninas foram crescendo, foram aprendendo, foram conhecendo. A infância passou tal como as preocupações características do conceito... a preocupaçãoo pelo sabor do doce da ingenuidade passou.. Esqueceram-se do que é chorar por algodão doce e pipocas, do que é brincar, do que é sorrir ingenuamente face a uma piada solta ao vento. A distância impôs-se e deixaram de saltar à corda, de jogar à macaca; passaram a brincar às escondidas, ao toca [amargo] e foge [brusco]. A ingenuidade desvaneceu-se na inconsciência dos belos tempos passados, a amizade escondeu-se debaixo do tapete, as brincadeiras trancaram-se no armário da indiferença. Longe. Foram crescendo longe de mais. Aprenderam novas coisas, novas pessoas, novas estradas, novas casas. Encontro, Reencontro, Conversa ocasional, Conversa Intencional, Saber, Perguntar, Conhecer de novo. Próximo. As meninas pequeninas sorriram de novo... Já diferentes, nova história cujo final ninguém sabe mas sabe bem ter apreendido e poder dar um novo final, infinito enquanto durar. Cotraditório ? Esperança.

És importante.


Sunday, February 4, 2007

Amo-te.

não precisas res(corres)ponder ou responde com algo que me desagrade menos que o silencio.
o silencio dói.

o silencio demora a passar, sufoca... mas à primeira golfada de ar, respira-se de alivio.

Saturday, February 3, 2007

Carne Crua.

És crua, destemperada. Não tens qualquer sabor ou paladar. Não tens gosto, não tens cheiro. Falta-te sal, falta-te pimenta, açúcar. Não tens condimentos. Estás crua, destemperada. És carne solta, não és comestível. És carne podre, carne incolor. Carne para abutres. Os restos. Comeram o que queriam de ti, os restos ficaram e apodreceram. És amarga (tens gosto?), temperas-te em álcool, carne fria. “E depois se o teu desejo persiste, consomes-te nele [apodrecendo]; e depois se o sangue ainda corre, corres atrás dele [carne insana] “.

Lixo orgânico, tu própria te colocas nessa lixeira com esses teus sentimentos imundos. Vais apodrecendo…

despida e tua.


Porque quando me despes
não me despes apenas o corpo
mas também a alma
Insistes em rasgar-me a roupa
insistes em baixar-me as defesas
Queres-me nua
queres-me tua
despida
exposta ao teu olhar
esse doce mas apaixonado olhar
Tu sabes o que procuras
insistes e vasculhas
o meu corpo
a minha alma
[conheces-me e queres conhecer-me?]
Porque quando me beijas
não me beijas apenas os lábios
mas também o coração
Tu sabes ou soubes-te chegar até lá
de lá não saís
Acomodaste-te
Agora és o hospede desse sitio tão estranho
Conquistas-te o lugar
decoraste-o (ou terá sido restaurado?)
mesmo sem lhe mudar as fundações, as paredes, o chão...
[amor?]

Porque quando me tocas
não tocas apenas na minha pele
no meu corpo
mas também no meu íntimo
nos meus desejos
na minha libido
Tocas-me e fazes-me sentir desejada
Desejo essas mãos no meu corpo
desejo esse corpo junto ao meu
e sentir o seu calor
Gosto do teu abraço
depois de um orgasmo partilhado
e arrancado de uma dança casual
[desejo, paixão?]

Friday, February 2, 2007

Violação Passiva.



Aquela estranha e familiar sensação invadiu-me. Estranho. Estranho sentires-te bem num sítio onde estás pela primeira vez, como se la tivesses estado todos os dias da tua vida, como se as pedras da calçada ja conheceçem o teu caminhar e as janelas e vidraças o teu reflexo. Como por magia elabora-se um mapa mental dentro de ti e vais vagueando num estranho sítio certa de que não te perderás e que irás chegar onde queres chegar! Estranho mas agradável. As muralhas confortam-te, o cheiro a especiarias liberta-te e em todo o lado aquela estranha sensação de deja vú. Há algo que te prende, algo que te força a ficar quase como uma violação passiva ( se me permitem a truculência)...