"Hmm just,
Give me a reason to love you!"
Extractos do meu ser e dos Demais que o rodeiam.
Está a chegar aquele dia, o dia em que toda a gente parece transformar-se em “nheca”. Moles, descabidos. A moleza leva-os pela demanda do santo Graal: berloques corações felpudos, molduras, caixinhas e bonequinhos… tudo vermelho, tudo mole, tudo “nheca”. E começam os saldos do coração. Lojas e lojinhas cheias de artigos destes, que servem para celebrar o falado dia. Para onde quer que te vires: “Amor”, “Adoro-te”, “I Love you”, “Ti amo”. Bah … merda e “nheca”!
Correcção, não há transformação em “nheca”, há congestionamento de “nheca” nas ruas! A “nheca” já existe só que resolve sair toda à rua! Por todo o lado, casais e casalinhos passeiam de mãos dadas, celebram o “amor”! Bebem cafezinhos, jantares românticos, passeios sensuais… não existe nada além de “nheca”!
Vais jantar com uma amiga, porque calha, não te lembras que a “nheca” anda à solta, e isso já faz de ti lésbica! (Confusão que não me desagrada) Sim, porque nesse dia só saem à rua casais enamorados. É o dia das “nhecas” que passam o resto do ano no sofá a ver filmes românticos, o dia das “nhecas” que esquecem por umas horas que não gostam tanto assim um do outro, que o amor passou a discussão consecutiva, e o bem estar comum a deixa tar ou deixa andar.
E vão aos saldos do coração porque mais vale comprar merda barata a não ter merda alguma.
*nheca: palavra que pode ser usada como substantivo ou adjectivo; subs. Comprador de nheca; adj. Algo mole que serve para simbolizar exacerbadamente o amor.
A noite cai, a puta sai. As luzes acendem, o céu escurece, as ruas vão ficando desertas, as cabeças despertas. As meias até ao joelho, apertadas, tão apertadas que a carne parece querer soltar-se daquele espartilho, roçam no interior das pernas já descarnadas. Os saltos agitam-se sob um corpo esquelético, pálido, patético. A pressa de chegar a sitio nenhum, à esquina mais próxima. Aqueles olhos negros, escondidos sob uma máscara artificial exagerada e esborratada, o cabelo moreno solto na poeira da cidade, na imundice de mãos anónimas e desconhecidas.
Acende um cigarro, unhas vermelhas. Saia curta, top acentuado, estás à espera de te vender ao desbarato? Chega o comprador: à dúzia é mais barato? Vendes-te como um naco de carne. Vendes o teu corpo e afirmas que alma fica intacta. “Tenho de fazer sacrifícios para conseguir o que quero”, dizes tu. Sacrifícios? Alma intacta? Não acredito. Sei o que vejo, vejo um pobre corpo entregue ao vício, não do prazer mas do dinheiro fácil e rápido. Sacrifício? Talvez mas és tu que te colocas nessa penitência e não me venhas dizer que não tem qualquer consequência! Já não te consegues dar a alguém que realmente te queria a não ser que te dê 50€ em troca. Não entendo, não consigo perceber. A noite acaba, acordas com lembranças do pesadelo recente. Dizes que não tem consequências? E esse olha apático, morto? Não é consequência?
Era uma vez, à muito tempo atrás, duas meninas pequeninas... essas meninas pequeninas encontram-se, sorriram, juntaram-se, partilharam, viveram... as meninas foram crescendo, foram aprendendo, foram conhecendo. A infância passou tal como as preocupações características do conceito... a preocupaçãoo pelo sabor do doce da ingenuidade passou.. Esqueceram-se do que é chorar por algodão doce e pipocas, do que é brincar, do que é sorrir ingenuamente face a uma piada solta ao vento. A distância impôs-se e deixaram de saltar à corda, de jogar à macaca; passaram a brincar às escondidas, ao toca [amargo] e foge [brusco]. A ingenuidade desvaneceu-se na inconsciência dos belos tempos passados, a amizade escondeu-se debaixo do tapete, as brincadeiras trancaram-se no armário da indiferença. Longe. Foram crescendo longe de mais. Aprenderam novas coisas, novas pessoas, novas estradas, novas casas. Encontro, Reencontro, Conversa ocasional, Conversa Intencional, Saber, Perguntar, Conhecer de novo. Próximo. As meninas pequeninas sorriram de novo... Já diferentes, nova história cujo final ninguém sabe mas sabe bem ter apreendido e poder dar um novo final, infinito enquanto durar. Cotraditório ? Esperança.
És importante.És crua, destemperada. Não tens qualquer sabor ou paladar. Não tens gosto, não tens cheiro. Falta-te sal, falta-te pimenta, açúcar. Não tens condimentos. Estás crua, destemperada. És carne solta, não és comestível. És carne podre, carne incolor. Carne para abutres. Os restos. Comeram o que queriam de ti, os restos ficaram e apodreceram. És amarga (tens gosto?), temperas-te em álcool, carne fria. “E depois se o teu desejo persiste, consomes-te nele [apodrecendo]; e depois se o sangue ainda corre, corres atrás dele [carne insana] “.
Lixo orgânico, tu própria te colocas nessa lixeira com esses teus sentimentos imundos. Vais apodrecendo…